quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Aniversariante em Decadência, Festa Decadente

A despedida de uma gestão de 7 anos foi realizada com um desfile mal organizado e sem brilho, onde o aniversário da emancipação política da cidade sequer foi percebido pela população.

(Foto: TeoFest) Solenidade Sem a Prefeita

O que há hoje em São Miguel dos Campos, além do vazio dentro das pessoas? Há frustração de um aniversário sem brilho, onde seus maiores amigos (seus habitantes) não compareceram, visto que não há motivação para sair de suas casas e assistir um simbolismo calcado à velha exploração da máquina pública como forma de autopromoção política numa tentativa de encobrir todos os males que nos assola. Abro uma exceção nesse pequeno relato para exaltar a coragem de alunos e profissionais que se expuseram para participar do apático “Desfile de 29 de Setembro”, pois estou comovido em ver aqueles(as) pequenos(as) resistindo ao desengano de apresentar um espetáculo fracassado para uma ínfima fração da população miguelense.

Jamais houve um desfile à altura do que poderia ser oferecido ao nosso povo. Não pela “descoberta do” rio, pois o Rio São Miguel sempre esteve aqui como parte da vida de nossos ancestrais indígenas. Mas, somos mestiços, de portugueses, holandeses e africanos, além (principalmente) de nossos irmãos vermelhos; portanto a formação da sociedade que recebe o nome do arcanjo cristão foi delineada a partir da chegada dos exploradores europeus. Assim, o dia 29 de setembro é um marco na formação da comunidade que nos deu origem e temos nesse dia uma referência para muitas festividades. Nesse dia o desfile cívico poderia marcar o auge dessa festa, onde representações dos diversos setores da esfera municipal (guarda civil, polícia militar, saúde, educação) expõem seu orgulho em fazer parte dessa terra e contribuir para seu desenvolvimento. Os desfiles escolares sempre são o ponto alto de um evento dessa natureza, pois a educação é o caminho mais próximo para o progresso, senão o único. Estudantes, professores e funcionários das escolas podem configurar o desfile exaltando a importância de sua escola para comunidade ao qual está inserida, exclamando o aniversário de nossa cidade e expressando as expectativas que carrega consigo. Mas, quantos estudantes miguelenses desfilam com essa perspectiva? Quantos funcionários municipais carregam o orgulho de fazer parte desse povo, e de representá-lo como parte indispensável de seu desenvolvimento? É claro que isto não ocorre aqui! Os cidadãos não trazem essa satisfação consigo, não conhecem esse prazer. Os estudantes sequer desfilam em suas próprias escolas e não manifestam uma sensibilidade cívica porque não são estimulados, porque as lideranças das instituições educacionais não estão sob a tutela de pessoas eleitas pela comunidade, mas de quem o poder municipal indica. Então, todos os anos somos “premiados” com um desfile sem causa, sem originalidade e com inúmeras faixas de agradecimento “ao empenho” da gestão com as necessidades do município, quando sabemos que isso tudo é meramente imposição. Ao invés de vermos os estandartes das escolas carregados por seus melhores alunos (que em uma situação ideal estariam amplamente satisfeitos em serem selecionados como tais), vemos uma péssima caracterização alegórica de carnavais do sul do país onde nossas jovens estudantes, crianças em boa parte, são colocadas numa exposição vulgar de sua figura para apreciação da indecência numa comoção que deveria prestigiar a formação intelecto cultural de nossa gente.

O desfile de hoje foi sem dúvida o pior da história de São Miguel dos Campos e reflete o abandono prestado pelas autoridades ao município. Uma completa desordem, momentos em que durante 30 minutos não havia uma, entre tantas instituições, pronta para desfilar deixando as ruas vazias. Tudo que era feito, e não era bom, em anos anteriores foi ainda pior este ano. O público não compareceu, pois não tinha estímulo para prestigiar o aniversariante, tinha medo de presenciar a violência que toma nossas ruas presentes também nesse ato.

Com tudo isso, resta-nos compreender que “São Miguel Acima de Tudo” não condiz com a realidade que sempre desejamos pra nós e nossos descendentes. Ainda assim, parabéns à nossa cidade, à nossa terra natal, por sua riqueza histórica, cultural e pela bravura de sua gente, que precisa reagir e tomar pra si as rédeas de seu próprio destino.