sábado, 1 de setembro de 2012

Eleições Municipais em São Miguel dos Campos

Sempre no período eleitoral explode em São Miguel todo tipo de faceta negativa que a má política pode oferecer. Discursos medíocres, provocativos, poluição sonora e visual, desrespeito e uma luta vazia pelo poder são explorados durante meses e conta com a conivência e apoio popular. Em 2012 não está sendo diferente.


O contexto do político de São Miguel é muito simples de se descrever, mas muito complexo quando se trata de sofrer inflexões. O eleitorado é composto basicamente de três perfis, considerando as principais motivações para o voto na região. Dois grupos se caracterizam pelo forte interesse em uma das duas últimas gestões municipais, interesse este despertado por benefícios recebidos em troca da exuberância de um apoio, incondicional, dado a uma dessas administrações. Os benefícios se expandem desde atribuições de pequenos favores, como emprego ou consulta/exame médico, até grandes tratativas de apoio financeiro e cargos de graus elevados. Em meio a esse embate há outra parcela da população, que vota pelo que entende ser mais justo e coerente para o município. É nesse cenário que se desenrolam as campanhas, tomando proporções delicados quando se trata do ridículo e do pouco desenvolvimento ideológico da política local.




Campanha Eleitoral

Seguindo os exemplos ruins do país, os candidatos do município desenvolvem as piores estratégias de propaganda para divulgar suas candidaturas. Na rua, fazem um uso abusivo de cavaletes e bandeiras, interrompendo o fluxo de pedestres e conturbando o trânsito. Outro grande estorvo é o uso de carros de som e uma festa de jingles com apelo repetitivo e tendo como base a cultura musical barata das rádios do país. Essas alegorias constituem a poluição visual e sonora que toma conta da cidade durante esse período e são recursos que não contribuem em nada para o debate que era necessário ocorrer durante uma campanha eleitoral. Um dos recursos que mais aproximaria o eleitor de seus candidatos também não se mostra eficiente, pois os comícios se limitam a enfatizar tudo o que há de negativo no discurso de um político de péssimo escalão. As carreatas também reforçam esse papel, movidas pela comoção de parcelas significativas do povo miguelense.




Aliado às deprimentes caracterizações citadas há algo que compõe o que existe de mais sujo na corrupção do ser humano, o envolvimento maciço das igrejas de quase todos os credos e religiões. Aproveitando de sua influência e da ignorância de sua plateia, uma gama de pastores estampa sua opção na mente dos fieis, um desrespeito às leis e a heterogeneidade de concepções. O suporte oferecido pelos pastores envolvidos é sempre oferecido em troca de favores financeiros, direto ou indireto, pois tratam de doações de terrenos e outros benefícios concedidos à sua comunidade religiosa, pouco importando as necessidades coletivas do povo miguelense ou com a atuação dos candidatos nas mais diversas áreas do convívio social.

Candidatos

Sem um eleitor exigente não é de se esperar muito dos candidatos, essencialmente à câmara de vereadores, um verdadeiro desastre. Boa parte dos candidatos sequer conhece as atribuições do ofício de um vereador e realiza promessas vazias ou distantes da função que executaria caso eleito. Alimentada pelo conhecimento ínfimo sobre o assunto, a população realiza sua escolha baseada num teatro de futilidades, enganações e compra de votos (que fatalmente resulta em péssimos desempenhos do legislativo, usados posteriormente pelos próprios eleitores como álibi de descrédito com a política). Aos candidatos a prefeito não se acrescenta muito, visto que insurgem da mesma pobreza ideológica e discursam para o mesmo público. Há 3 supostas candidaturas na cidade: a do atual Prefeito, George Clemente; a do empresário Nivaldo Jatobá, indeferida pelo Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas (TER/AL) e aguardando decisão do Supremo Tribunal Eleitoral (STE); e a de Salustiano dos Santos. Este último apresenta sua candidatura pelo PRTB quase como uma aventura, pois não está engajado na realidade do município e é reconhecido pelo eleitor apenas durante o período de campanha usando jargões demagogos como “minha campanha será toda voltada para a aproximação com o eleitor” (afirmação dada durante caminhada pelas ruas da cidade). Nivaldo Jatobá, do PMDB, tenta seu terceiro mandato, onde as “más línguas” e a eficiência do TER afirma que é o quinto. Uma novidade na campanha desta eleição é o grande número de jovens, entre 18 e 30 anos, adeptos a causa do ex-prefeito. Ironicamente, esses jovens usam uma bandeira de “renovação” para propagar uma candidatura que passou quase os últimos 16 anos no poder. Os jovens e as mulheres são alvos em potencial dos partidos, visto que quase ou todos criaram alas para esses dois públicos com a intenção de formar seus futuros militantes. Infelizmente a maioria dos jovens envolvidos já inicia usando o mesmo discurso antiquado dos políticos oligárquicos de meio século atrás e que predomina nos dias atuais. George Clemente, entre pontos positivos e negativos, esforçar-se para manter coerência entre a realidade esperada por seus eleitores e seus 10 meses de administração. Candidato pelo PSB, o atual Prefeito carrega a responsabilidade de convencer o eleitor de que é possuidor de espírito público e competência suficiente para ao menos iniciar as transformações almejadas pela gente de São Miguel e que foram ignoradas pelas gestões anteriores. Lamentável que as estratégias de campanha elaboradas por seus correligionários não diferenciem muito das mazelas propostas pelos adversários.


A mentalidade provinciana do eleitor miguelense, que por vezes beira uma masoquista necessidade de apadrinhamento e servidão, proporciona a cidade uma campanha cheia de chacotas, provocações, discursos vazios e interesses individuais, e dessa maneira a cidade progride pouco em vista do que seria possível alcançar. Uma grande frustração para qualquer observador, ainda que pouco atento, é a postura e os argumentos de parte dos universitários do município, quase sempre baseados na mesma falta de princípios morais, éticos e sociais usados nas palavras da gente humilde.