Sempre no período eleitoral explode em São Miguel
todo tipo de faceta negativa que a má política pode oferecer. Discursos medíocres, provocativos, poluição sonora e visual, desrespeito e uma luta vazia pelo poder são explorados durante meses e conta com a conivência e apoio popular. Em 2012 não está sendo diferente.
O contexto do político de São Miguel é muito simples de se descrever, mas muito
complexo quando se trata de sofrer inflexões. O eleitorado é composto
basicamente de três perfis, considerando as principais motivações para o voto
na região. Dois grupos se caracterizam pelo forte interesse em uma das duas
últimas gestões municipais, interesse este despertado por benefícios recebidos
em troca da exuberância de um apoio, incondicional, dado a uma dessas
administrações. Os benefícios se expandem desde atribuições de pequenos favores,
como emprego ou consulta/exame médico, até grandes tratativas de apoio
financeiro e cargos de graus elevados. Em meio a esse embate há outra parcela
da população, que vota pelo que entende ser mais justo e coerente para o
município. É nesse cenário que se desenrolam as campanhas, tomando proporções
delicados quando se trata do ridículo e do pouco desenvolvimento ideológico da
política local.
Campanha Eleitoral
Seguindo
os exemplos ruins do país, os candidatos do município desenvolvem as piores
estratégias de propaganda para divulgar suas candidaturas. Na rua, fazem um uso
abusivo de cavaletes e bandeiras, interrompendo o fluxo de
pedestres e conturbando o trânsito. Outro grande estorvo é o uso de carros de som e uma festa de jingles com apelo repetitivo e tendo
como base a cultura musical barata das rádios do país. Essas alegorias
constituem a poluição visual e sonora que toma conta da cidade durante esse
período e são recursos que não contribuem em nada para o debate que era
necessário ocorrer durante uma campanha eleitoral. Um dos recursos que mais
aproximaria o eleitor de seus candidatos também não se mostra eficiente, pois
os comícios se limitam a enfatizar
tudo o que há de negativo no discurso de um político de péssimo escalão. As carreatas também reforçam esse papel,
movidas pela comoção de parcelas significativas do povo miguelense.
Aliado
às deprimentes caracterizações citadas há algo que compõe o que existe de mais
sujo na corrupção do ser humano, o envolvimento maciço das igrejas de quase
todos os credos e religiões. Aproveitando de sua influência e da ignorância de
sua plateia, uma gama de pastores estampa sua opção na mente dos fieis, um
desrespeito às leis e a heterogeneidade de concepções. O suporte oferecido
pelos pastores envolvidos é sempre oferecido em troca de favores financeiros,
direto ou indireto, pois tratam de doações de terrenos e outros benefícios
concedidos à sua comunidade religiosa, pouco importando as necessidades
coletivas do povo miguelense ou com a atuação dos candidatos nas mais diversas
áreas do convívio social.
Candidatos
Sem
um eleitor exigente não é de se esperar muito dos candidatos, essencialmente à
câmara de vereadores, um verdadeiro desastre. Boa parte dos candidatos sequer
conhece as atribuições do ofício de um vereador e realiza promessas vazias ou
distantes da função que executaria caso eleito. Alimentada pelo conhecimento ínfimo
sobre o assunto, a população realiza sua escolha baseada num teatro de futilidades,
enganações e compra de votos (que fatalmente resulta em péssimos desempenhos do
legislativo, usados posteriormente pelos próprios eleitores como álibi de
descrédito com a política). Aos candidatos a prefeito não se acrescenta muito,
visto que insurgem da mesma pobreza ideológica e discursam para o mesmo
público. Há 3 supostas candidaturas na cidade: a do atual Prefeito, George Clemente; a do empresário Nivaldo Jatobá, indeferida pelo
Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas (TER/AL) e aguardando decisão do Supremo
Tribunal Eleitoral (STE); e a de Salustiano
dos Santos. Este último apresenta sua candidatura pelo PRTB quase como uma
aventura, pois não está engajado na realidade do município e é reconhecido pelo
eleitor apenas durante o período de campanha usando jargões demagogos como “minha
campanha será toda voltada para a aproximação com o eleitor” (afirmação dada
durante caminhada pelas ruas da cidade). Nivaldo Jatobá, do PMDB, tenta seu
terceiro mandato, onde as “más línguas” e a eficiência do TER afirma que é o
quinto. Uma novidade na campanha desta eleição é o grande número de jovens,
entre 18 e 30 anos, adeptos a causa do ex-prefeito. Ironicamente, esses jovens
usam uma bandeira de “renovação” para propagar uma candidatura que passou quase
os últimos 16 anos no poder. Os jovens e as mulheres são alvos em potencial dos
partidos, visto que quase ou todos criaram alas para esses dois públicos com a
intenção de formar seus futuros militantes. Infelizmente a maioria dos jovens
envolvidos já inicia usando o mesmo discurso antiquado dos políticos
oligárquicos de meio século atrás e que predomina nos dias atuais. George
Clemente, entre pontos positivos e negativos, esforçar-se para manter coerência
entre a realidade esperada por seus eleitores e seus 10 meses de administração.
Candidato pelo PSB, o atual Prefeito carrega a responsabilidade de convencer o
eleitor de que é possuidor de espírito público e competência suficiente para ao
menos iniciar as transformações almejadas pela gente de São Miguel e que foram
ignoradas pelas gestões anteriores. Lamentável que as estratégias de campanha elaboradas
por seus correligionários não diferenciem muito das mazelas propostas pelos
adversários.
A mentalidade provinciana do eleitor miguelense,
que por vezes beira uma masoquista necessidade de apadrinhamento e servidão,
proporciona a cidade uma campanha cheia de chacotas, provocações, discursos
vazios e interesses individuais, e dessa maneira a cidade progride pouco em
vista do que seria possível alcançar. Uma grande frustração para qualquer
observador, ainda que pouco atento, é a postura e os argumentos de parte dos
universitários do município, quase sempre baseados na mesma falta de princípios
morais, éticos e sociais usados nas palavras da gente humilde.