quinta-feira, 2 de junho de 2011

Tapa na Cara da Sociedade Brasileira

Tropa de Elite II, do diretor José Padilha, destacou o cinema nacional como nenhuma outra produção, expondo as caricaturas existentes no sistema de segurança pública brasileiro, rigorosamente ligado à corrupção política e interesses econômicos.  O filme foi o campeão do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro e também foi premiado na 8ª edição do Prêmio Acie de cinema.



Tapa na cara de quem?

Assistir ao segundo filme Tropa de Elite deixa muita gente surpresa, mas nem todos pelas mesmas razões. Por isso, o título da postagem retifica uma alienação causada muito comumente em obras como essa, seja literária ou cinematográfica. Que muita gente da classe política nacional está envolvida até o pescoço com o crime organizado e que não está interessado na ordem social do país não é novidade, porém é a única conclusão a que muitas pessoas conseguem chegar ao assistir o filme. Na penúltima cena do filme o personagem de Wagner Moura exibe a seguinte indagação: “E quem alimenta tudo isso?”. Lógico que não foi respondido, pois compete a cada telespectador analisar a questão, sendo atribuído ao filme apenas a função de encorajá-la. E depois de tudo que é mostrado a resposta para tal pergunta é muito fácil, mas a conjectura é o problema. Com a mente prostrada pelo comodismo, as pessoas apenas apontam a política nacional como culpada e não se questionam sobre mais nada. Não devemos esquecer que a política nacional se alimenta de “nossa” omissão, do escárnio que o eleitor brasileiro se tornou e vem se tornando com maior intensidade durante todo esse tempo. Os políticos brasileiros são corruptos porque representam uma maioria corrupta de nossa gente, porque a maioria dos brasileiros apóia a corrupção, vota e age com ela. O pior é a ótica com a qual a população se dirige aos fatos, apontando culpados, como sempre, quando possui também uma boa parcela de culpa. É uma estratégia muito velha: apontar o erro dos outros para desviar a atenção dos seus. Por isso, caem no vício de repetir que aqui no Brasil todo parlamentar é safado e que perderam a esperança de mudar. Conversa fiada, a verdade é que não querem assumir a responsabilidade pelo que ajudam a criar e fazem isso mais uma vez ao ver Tropa de Elite 2. A afirmação do jornalista Luciano Trigo em uma resenha feita para o G1 descreve bem a essência do filme quando diz que Tropa de Elite II é um "tapa na cara do espectador".




Quem são ou onde estão os vilões?

É um filme extraordinário, mas não por mostrar as arquitetações fraudulentas da política nacional, nem pelo esclarecimento feito quanto a corrupção existente dentro da polícia carioca. Nada disso surpreende. É esplêndido por tratar da metamorfose sofrida pela sociedade com os fatos que constroem sua história. Podemos ver claramente que o inimigo não tem cara, não é uma pessoa ou grupo em particular, mas funções, cargos, tendências culturais que estão enraizadas na sociedade brasileira como um todo. Isso não é novo, seja histórica ou cinematograficamente, no entanto é novidade para o cinema nacional em particular. O mérito do filme está em expor tudo isso, de uma forma tão clara, sem complexidades. Impressiona a evolução dada do primeiro para o segundo filme. Não que o primeiro tenha sido ruim, mas de lidar com a estrutura policial para articulação política é um avanço impressionante, e tudo feito de maneira extremamente coerente, ligadas pelo protagonista da história. Sobre uma possível continuação, o diretor José Padilha já afirmou que não está em seus planos.




Campeão de Premiações

No Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, ocorrido no dia 31 de maio no Teatro João Caetano (Rio de Janeiro), o filme sagrou-se como grande campeão desta que foi a 10ª edição do prêmio. O filme de José Padilha concorreu em 16 das 27 categorias vencendo 9, entre elas filme, diretor, ator (Wagner Moura) e roteiro original. As escolhas são feitas pelos sócios (cineastas, produtores, atores) e todo o processo é auditado. Em três categorias apenas, a votação do público foi pela internet e pelo celular. O filme teve como grande concorrente "Chico Xavier", de Daniel Filho, com a mesma quantidade de indicações.

Padilha humildimente elogiou as produções concorrentes e afirmou que "esses prêmios são coisas simbólicas, cinema não é uma corrida, com primeiro, segundo e terceiro lugares". O longa-metragem é o recordista de bilheteria do cinema nacional, arrecadando R$ 102,6 milhões até o final de 2010. "O cinema americano não faz mais filme, faz videogame. Nós fazemos e continuaremos a fazer um cinema humanista", disse o produtor Luiz Carlos Barreto, um dos homenageados da premiação que é realizada pela Academia Brasileira de Cinema.




Tropa de Elite II também foi premiado na 8ª edição do Prêmio Acie de Cinema. Venceu quatro das seis categorias em que concorreu. Venceu como melhor filme, roteiro (Bráulio Mantovani), ator (Wagner Moura) e fotografia (Lula Carvalho).


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